sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sou um assaltante


Essa semana aconteceu um fato curioso. Entrei num ônibus na Barra da Tijuca e o cobrador pensou que eu fosse assaltar o ônibus. Não me deixou passar na roleta. Na hora eu não entendi direito o porquê, até que percebi que ele estava muito nervoso com a minha presença. Essa atitude dele me fez pensar. Eu deveria ter ficado com muita raiva, mas na hora tamanha foi a minha perplexidade que eu não falei nada. Minha consciência estava limpa. Eu sei que eu não ia fazer nada...

Mas por que ele achou que eu poderia assaltar o ônibus? Pela minha roupa?! Não. Ele não teria ido com a minha cara? Talvez. Mas acho que foi mesmo pela minha cor. Mas tudo bem, eu o entendo. Não sou hipócrita. Quem não fica mais atento quando entra um negro em um ônibus? Se usar boné então... Ficamos ligados! E se estiver de chinelo?! O ônibus nem pára, na maioria das vezes.

Eu poderia estar revoltado pela atitude preconceituosa do cobrador, mas não estou, pois eu poderia ser um dos que estavam naquele ônibus e inclusive, poderia ter tido a mesma reação. Mas isso não justifica o ato em si. É somente um pequeno retrato do preconceito racial que existe neste país e que muitos insistem em negar. Não há justificativa para o preconceito, mas aprendi com essa experiência. Paga-se um preço muito caro por ser negro num país onde a maioria é de negros. Contraditório? Sim. Há país mais contraditório que esse?!

Enquanto nos preocupamos com os negrinhos que podem nos roubar, branquinhos engomadinhos nos roubam todo o tempo. Um branco de terno-e-gravata será sempre um branco de terno-e-gravata, não importando o que ele faça. Para eles, não há prisão. Sempre há um habeas corpus saindo do forno, a todo o momento. E o pobre negro apodrece na prisão, às vezes por roubar para comprar um pão...

Cada um pode suspeitar de quem quiser.

Mas eis a pergunta que não quer calar:

em quê fundamenta-se o nosso medo?



Podemos nos surpreender com a resposta.

3 comentários:

Anônimo disse...

eu te falei, cara...
você não quis acreditar... Teve de sofrer na própria pele.
Abraço.

Ass: rafael

Unknown disse...

Oii... Bom vim aqui lhe parabenizar por esse texto, realmente hoje em dia as pessoas não tem conciencia de seus atos sinto por você ter sentido isso, desejo tudo de bom para ti ! boa sorte com seus textos, fica com Deus !
de sua amiga : Júlia

Juwer disse...

É inacreditável... mas este tipo de preconceito existe e não vejo mt perspectiva de melhoras infelizmente

abraço rodrigo!