domingo, 23 de novembro de 2008

O céu da Unidos da Tijuca








“Tijuca 2009: Uma odisséia sobre o espaço” é o enredo da Unidos da Tijuca. O enredo vai abordar o céu sobre diversos aspectos: o céu dos deuses, o céu do conhecimento, o céu das lendas e superstições, o céu infantil, o céu do cinema e o céu da realidade.


Vendo as fantasias da escola que já foram apresentadas, já deu para perceber que a escola continua com a proposta de apresentar um carnaval de fácil leitura, com fantasias simples que transmitem muito bem o que a escola deseja. Os carros também deverão seguir a mesma linha.


A Tijuca cresceu desde 2004 e hoje é considerada uma das grandes escolas do Rio. O curioso é que para que a escola fosse enxergada por todos, precisou de que passasse por ela um carnavalesco, até então, desconhecido, que era Paulo Barros. Ele entrou em 2004 e de cara conseguiu um vice-campeonato e em 2005 repetiu o resultado, ficando atrás somente da Beija-Flor. Mérito de Paulo Barros? Em grande parte, sim; foi o que se pensou na época, mas hoje constatamos o seguinte fato: desde que Paulo Barros deixou a Tijuca, em 2007, a escola sempre está entre as campeãs e sempre em colocações superiores a do seu antigo carnavalesco. E isso é uma resposta do Morro do Borel, que luta por essa escola desde a década de 30, pois embora só tenha sido “percebida” há 4 anos pelo grande público, a Tijuca é a terceira escola de samba do Rio, e por conseqüência do Brasil e esteve presente (junto com Mangueira e Portela) no primeiro desfile oficial de escolas de samba do Rio de Janeiro.


Portanto, a Tijuca merece ser respeitada com ou sem Paulo Barros e isso é o que a escola está mostrando nos últimos carnavais. Ao invés de apelar para os enredos encomendados por empresas multimilionárias, a escola veste a camisa e aposta no que é diferente, numa linguagem que foge do sempre visto. É o conceito de que desfile de carnaval não precisa de manual de instrução para ser entendido. A proposta é olhar e reconhecer. Simples. Mas não é o que a maioria das escolas segue. Pode ser que tenha um rastro de Paulo Barros na Tijuca ainda. Mas, e daí? Não tiraremos o mérito da escola e por isso, aposto que a Tijuca vem forte para conquistar o título do carnaval de 2009.


Porém, o enredo merece ressalvas. Não é perfeito, pois aqui também há a questão de um tema que é multifacetado, para poder ser transformado em setores do desfile. Isso é bom, mas não pode ser colagem de assuntos diversos. E pelas fantasias apresentadas, o setor que fala do “céu infantil” pode se confundir com o setor que fala do “céu do cinema”.


Luiz Carlos Bruno é o carnavalesco e tem tudo para fazer um bom trabalho. Rogerinho, o mestre-sala (que alguns apontam como o melhor da atualidade) voltou para escola e forma par novamente com Lucinha Nobre (a irmã do Dudu). Ou seja, só há pontos positivos. Por que não sonhar com o titulo?

Corre nos bastidores do mundo do samba que, na verdade, para a Tijuca ganhar, o jurado precisa respeitar a sua maneira e sua linguagem própria de fazer carnaval. Do contrário, vencerão as fantasias luxuosas e os carros gigantescos que ninguém entende...


Mas a Tijuca é forte e aposta que o céu a abençoará no próximo carnaval e que a vitória virá. É esperar para ver.

Sinopse:

domingo, 16 de novembro de 2008

O Clube Literário da Mocidade




A Mocidade, em 2009, vai prestar uma homenagem à literatura brasileira, falando de dois ícones da nossa literatura: Machado de Assis e Guimarães Rosa; com o enredo: “A Mocidade apresenta: Clube Literário - Machado de Assis e Guimarães Rosa... Estrelas em poesia!”.

A escolha do enredo já foi polêmica desde o começo, quando a escola anunciou que faria um enredo homenageando Machado de Assis (pegando carona nos 100 anos de sua morte), porém apresentou à imprensa uma sinopse que continha o nome de Guimarães Rosa, José Sarney, entre outros, que ninguém entendeu o que eles faziam ali, se o enredo era sobre o “bruxo do Cosme Velho”. Sem falar nas duras críticas ao texto da sinopse, que continha inúmeros erros de português, erros estes gravíssimos, ainda mais num enredo que aborda a literatura. Os jornalistas reclamaram com a escola e eles reconheceram que tinham feito uma sinopse às pressas e resolveram refazê-la e com isso, mudaram o enfoque do enredo, e agora sim, este abordará os dois escritores (a morte de Machado e o nascimento de Rosa).


Este enredo teria tudo para me conquistar e me deixar extasiado, pois como estudo Letras, um enredo sobre literatura brasileira seria um colírio para os meus olhos, mas não posso deixar de negar minha insatisfação com esse tema. Quando li a sinopse, me cansei de forma única - e olha que eu li a sinopse de todas as escolas do Grupo Especial! É uma sinopse muito extensa, com dados biográficos que em nada servem para sintetizar o enredo. Parece que fizeram de propósito. Por causa das críticas à primeira sinopse mal-feita, quiseram agora demonstrar total conhecimento do assunto e fizeram um longo texto, que é, no mínimo, tedioso.


Quando pensei num enredo sobre literatura, pensei num “estilo Paulo Barros”, ou seja, um autor e suas principais obras e estas transformadas em fantasias e em carros alegóricos. O público reconheceria visualmente as obras de um determinado autor. Seria muito interessante e daria certo, pois Paulo Barros conseguiu concretizar um enredo sobre música, em 2006, desta forma. Mas a Mocidade preferiu uma abordagem fantasiosa, mítica e vai abordar “o nascimento da estrela mística literária” (que é a fundação do tal clube literário que a escola propõe), Machado, suas obras e seu apreço pela música; Guimarães Rosa, suas obras (com ênfase em Grande Sertão: Veredas) e terminará o desfile como o último ato de uma ópera, no qual “os corpos iluminados” (leia-se: Machado e Rosa) voltam à vida para se encontrarem com “os academicistas do samba” (leia-se: a Velha Guarda da Mocidade).


Ok, eu entendo que às vezes o uso da criatividade tem que ser valorizado, mas para que viajar tanto?! Não seria mais simples abordar somente as obras dos autores?! Para que dar um “quê” de misticismo a um enredo que fala de literatura?! Juro que não entendo. E se eu não entendi lendo a sinopse; será que eu vou entender na Sapucaí, no calor da bateria?! O público e os jurados poderão ficar confusos e isso poderá prejudicar a escola. O que é uma pena, pois a Mocidade é uma escola que outrora lutava pelos primeiros lugares, e que hoje em dia, luta para continuar no Grupo Especial. E tudo isso é reflexo de uma administração confusa, visto que nos últimos 4 carnavais, passaram pela escola 4 carnavalescos diferentes, 3 mestres de bateria diferentes, 3 intérpretes diferentes, sem falar no troca-troca de coreógrafos de comissão de frente (ainda bem que agora, a escola contratou Fábio de Mello, que é o melhor coreógrafo de comissão de frente da atualidade) e de mestres-sala e portas-bandeira. Sem falar na falta de dinheiro que assola a escola, pois na década de 90, quando a Mocidade era comandada por Renato Lage e conhecida como a escola “hi-tech”; o dinheiro existia em grande quantidade, que vinha do patrono da escola, o bicheiro Castor de Andrade. Não há mais o dinheiro, mas a comunidade está viva e ela pode ser a salvação da escola. Por que não apostar na comunidade, como faz a vitoriosa Beija-Flor?!


Mas, de qualquer forma, com comunidade ou sem ela, um bom enredo ajuda, e neste caso, temo pela Mocidade e por Machado e Rosa...


Será que eles aprovarão esta homenagem?!


Sinopse:

domingo, 9 de novembro de 2008

Viradouro e a energia que vem da Bahia





Quando a Viradouro resolver falar da Bahia para o carnaval de 2009, o carnavalesco ainda era o Paulo Barros. O presidente da escola, Marco Lira, já tinha até batido o martelo: o enredo seria a reedição de um samba apresentado pelo Salgueiro, no carnaval de 1969, chamado “Bahia de todos os deuses”. O enredo falaria das belezas da Bahia e de seu povo, numa visão mais turística e cultural. Ou seja, mais do mesmo. Mas como o carnavalesco seria Paulo Barros, poderíamos esperar com certeza uma Bahia bem diferente e “arretada”.

O presidente pensou melhor e decidiu não mais reeditar um samba da escola alheia, e sim fazer seu carnaval com um samba inédito. Decisão estranha, visto que o samba do Salgueiro de 1969 é muito conhecido até hoje e com certeza, seria um “plus” para o desfile da Viradouro e levantaria a Sapucaí, já que a escola será a última a desfilar na segunda-feira de carnaval. (Para quem não lembra do samba, ele tem uma parte que é até hoje cantada nas rodas de capoeira: “zum zum zum zum zum zum, capoeira mata um...”).

Mas aí, Marco Lira pediu um carnaval com mais luxo. Paulo Barros não gostou do palpite e foi demitido.

Então, o presidente da escola chamou para o cargo de carnavalesco Milton Cunha, competentíssimo e muito inteligente. Para mim, ele é (junto com Rosa Magalhães, da Imperatriz) o carnavalesco que melhor sabe criar e desenvolver um enredo. Foi só Milton chegar para pôr ordem na casa. Falar de Bahia é com ele mesmo!

Milton propôs uma nova leitura sobre a Bahia e em 2009, apresentará o enredo: “Vira-Bahia, pura energia!”. O enredo vai enfocar a Bahia, mas como fonte de energia renovável. Vai fugir do lugar-comum, como o acarajé, o vatapá e a micareta, para falar do azeite de dendê que pode ser usado como combustível, inclusive no carro velho da Ivete... Cana-de-açúcar, mamona, girassol, canola, pinhão-manso... tudo isso estará no tabuleiro da baiana. A Viradouro promete encerrar o carnaval mostrando a energia que os baianos têm. E alguém duvida, meu rei?! Ó, paí, ó!

Na minha opinião, é um grande enredo que a escola tem na mão. Agora, é torcer para a apresentação no dia do desfile estar a altura da sinopse divulgada para a imprensa.


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A Mangueira e o povo brasileiro





A Mangueira vai homenagear o povo brasileiro, em 2009, com o enredo: “A Mangueira traz os Brasis do Brasil mostrando a formação do povo brasileiro”. O enredo é inspirado no livro “O Povo Brasileiro” de Darcy Ribeiro (que dá nome à Passarela do Samba).

Abordará a miscigenação brasileira e não faltarão índios, negros e brancos para mostrar o quanto somos diferentes, porém únicos. Esse enredo me dá a sensação de “deja vu”, de “já vi esse filme (ou desfile) antes...”.

Por que não falar de Cartola, que completou 100 anos de nascimento?! Não... A Mangueira não ouve os conselhos do povo do samba e escolheu em 2008 falar sim dos 100 anos, mas do frevo. E deu no que deu. A pior colocação de sua história. Um amarguíssimo décimo lugar. Só a frente da Porto da Pedra e da São Clemente, que fora rebaixada para o Grupo de Acesso.

Por que, Mangueira?! Por que, em 2009, falar de um tema tão batido?! Sinceramente, não sei. Não sei o porquê desta escolha e também não sei o que esperar do desfile da verde-e-rosa, pois saiu o “mago das cores” (Max Lopes), que tinha um estilo barroco de fazer carnaval (leia-se: muito luxo) e agora entra Roberto Szaniecki, que embora tenha feito carnavais mais “limpos” na Grande Rio, com design moderno; também possui um estilo barroco. Eis a minha dúvida. Será que a Mangueira não trocou seis por meia-dúzia?! Ou Roberto vai trazer uma Mangueira com cara de Grande Rio (leia-se: muito, mas muito luxo mesmo + carros tão grandes que quebram no meio da Avenida)?!

É esperar para ver...

Que saudades do Jamelão!