sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Madonna - Pegajosa e Doce

Madonna anunciou que viria ao Brasil depois de 15 anos ignorando a banda de cá da América. Porque na última turnê do ótimo cd “Confessions on a dance floor”, cogitou-se até uma apresentação gratuita (até parece!) na praia de Copacabana, como fora o show dos Rollings Stones. Mas ouvi dizer que Madonna teria cobrado muito e que por isso, não iria trazer ao Brasil aquela que foi a sua melhor turnê já produzida. Tudo bem. A vimos pelo dvd...

Mas eis que surge um novo cd, uma nova Madonna, uma nova turnê. Depois do perfeito cd (não canso de dizer isso) todo feito em batida eletrônica, surge uma Madonna oportunista (no melhor uso da palavra), fazendo uso do hip-hop. Antes que me acusem de algo, explicarei melhor o uso da palavra “oportunista”.



Digo que Madonna foi oportunista ao lançar esse último álbum (Hard Candy), pois entendo que oportunista é aquele que sabe aproveitar uma boa oportunidade e tirar proveito dela. Ela parou e observou que os rappers nunca estiveram tão na moda. Vide Jay-Z , Já Rule, Pharrel, Will I am, 50 Cent, Justin, Timbaland, Kayne West e tantos outros. Esses caras lançam uma música atrás da outra e são febre em quase todo o mundo. Madonna, muito esperta, não queria ficar para trás. Sabia que num novo álbum, se não os usasse, teria que disputar com eles o espaço musical (guardadas as devidas proporções). Então, decidiu que iria trabalhar com eles. Oportunista mais uma vez, chamo eu. E acertou em cheio. Mas não é ineditismo!

Madonna deve ter aprendido com Mariah Carey, que depois de amargar péssimas vendas (fazendo cds só para seus fãs) cedeu ao encanto dos rappers (e à pressão da gravadora) e vendeu que nem água um cd que continha vários hits dançantes, como “It’s like that”, “Shake it off”, “Get your number”, entre outros. Mariah tinha deixado de ser cantora somente para fãs e virou cantora de massa a ponto de ter uma música sua executada no baile de charme debaixo do viaduto de Madureira! Quem diria que os “negões” (sem ofensas) um dia ouviriam a voz fininha de Mariah?! E por que ouviram sem reclamar? Porque ela entrou no clima (e no ritmo certo). Madonna estava atenta a tudo isso...

Por isso, neste novo cd, ela chega com uma nova batida, mas o cd não chega nem aos pés do anterior. Mas é interessante ver essa mistura. A rainha do pop lança um cd com uma levada hip-hop, mas que no fim acaba sendo um “hip-hop-pop” e nada além disso.

Mas falando da turnê do cd novo, esta chega ao Brasil, o último país pelo qual a turnê passará. Dois shows no Rio e três em Sampa. Tá de bom tamanho. Na verdade, ela até agendou shows demais. Cogitava-se uma única apresentação. Mas a “Time for fun” (empresa que a trouxe) pagou uma fortuna por essa brincadeira toda...

Eu relutei muito. Não queria ir ao show de jeito nenhum. Pagar um dinheirão para ver um artista... Não. Era demais para mim. Não podia aceitar isso! Mas quando chegou no dia do primeiro show, me bateu um sentimento ruim no peito. E odeio esse sentimento. Explico, mas vê se você me entende ou se já aconteceu com você algo parecido... Sabe quando tem uma festinha de um vizinho seu e todos os seus amigos são convidados, menos você? Por mais que você anuncie pelos quatro cantos que você não faz questão de ir à festa alguma, não te dá uma sensação chata, ruim, sensação de excluído?! Em mim, dá! Que raiva que eu fico quando isso acontece! Pois então, aconteceu a mesma coisa comigo em relação ao show da Rainha do Pop. Eu não fazia questão, mas todo mundo estava indo (todo mundo mesmo, até meu professor de Literatura Portuguesa!). Não podia aceitar essa exclusão. Comprei o ingresso para o segundo dia, faltando vinte minutos para o show começar. Com um cambista, é claro. Não me julgue! Continuando... Por um erro do dito cujo, meu ingresso saiu por 35 reais (sim, isso mesmo! Nem eu acreditei!).

Entrei no Maraca. O palco era gigante. O show começou uma hora e quarenta depois. Curti o show como nunca e descobri que eu sabia cantar a maioria das músicas. O show terminou. Foram as duas horas mais rápidas de toda a minha vida. O show fora perfeito. O melhor show da minha vida. Tá, na verdade, nunca tinha ido a outro show, mas Madonna é Madonna e é para sempre...

Sai do Maraca satisfeito com o que eu tinha visto. Ela é danada mesmo. Faz jus ao nome da turnê. Madonna é doce e pegajosa. Gruda no ouvido e não sai mais. Você diz que não gosta, mas quando vê tá cantando uma de suas músicas-chiclete. É horrível ter que admitir isso, mas ela não ostenta o título de “Rainha” à toa. Ela é soberana no palco. Uma senhora cantora, no auge dos seus cinqüenta anos...

“Seu Ladir” diria que Madonna é “mara”. Eu prefiro pegar carona numa charge do Aroeira, e afirmar que mais pop que a Madonna no Brasil, atualmente, só o Lula mesmo...


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Os 50 anos da Imperatriz





“Imperatriz... só quer mostrar que faz samba também!” é o enredo da escola de Ramos para tentar o campeonato em 2009 e vai contar na avenida a sua história. Afinal, a escola completará 50 anos no ano que vem.


O enredo é muito rico, pois a escola vai fugir do óbvio ao abordar a trajetória da escola relacionando-a com a formação do bairro, no qual está inserida. Ou seja, não há como separar a Imperatriz de Ramos. Falar de Ramos é falar da Imperatriz e vice-versa. Destaco que a carnavalesca Rosa Magalhães acerta em fugir do óbvio porque ela vai pelo caminho mais difícil e aí sim, vemos o talento desta profissional.


O óbvio seria fazer o que o Salgueiro fez em 2003: ao contar seus 50 anos num desfile, optou por recriar os carnavais campeões. No papel, foi tudo muito bonito. Mas o público não gostou do que viu e nem os jurados. E a escola amargou um sétimo lugar. A Imperatriz não quer repetir o erro de sua co-irmã, até porque, sabe-se muito bem (mas não comenta-se) que o último tricampeonato da escola foi armação das brabas...


Hoje muitos odeiam a Beija-Flor por ela ganhar sempre, mas pelo menos se há mutreta, essa é disfarçada. Mas só para lembrar: nos carnavais de 1999, 2000 e 2001, o presidente de honra da Imperatriz era também o presidente da LIESA, o mesmo que era o responsável por contratar os jurados. Não é a toa que a escola tirava dez de todos os jurados. Claro. Sabe-se muito bem que quem não samba conforme a música, não volta a ser jurado no carnaval seguinte. Mas nada aconteceu. Nem CPI do Carnaval houve. A Beija-Flor é perseguida. A Imperatriz nem julgada foi...


Mas se havia alguém forjando o resultado ou não, pro folião isso não interessa! O que ele mais quer é brincar o carnaval e cantar o samba da Imperatriz! Por isso, por bom senso, o melhor para todos é esquecer essa história toda e lembrar a história boa que a escola tem para contar... “Essa parte pula!” Melhor para o enredo...


Para não dizer que não haverá nenhuma referência a carnavais passados, o enredo vai mostrar carnavais que realmente foram importantes na sua história, como "O que é que a Bahia tem" e "O teu cabelo não nega", de Arlindo Rodrigues; “Martim Cererê”, samba-enredo que virou trilha sonora de novela “Bandeira Dois” da Rede Globo, em 1972 e o excelente "Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!”, de 1989; samba antológico que tirou o título da Beija-Flor (e de Joãozinho Trinta) naquele ano.


O enredo passeará também por Ramos e sua formação, na época em que era uma fazenda cujo dono era o senhor José Fonseca Ramos e decidiram pôr uma estação de trem na fazenda. A partir de então, estava criada a Parada de Ramos e aí depois foi só emoção... Villa-Lobos, Cacique de Ramos, Pixinguinha, Mano Décio da Viola, Heitor dos Prazeres e Fundo de Quintal... A nata do samba vem de Ramos e muita gente desconhece. Mas a escola quer tornar essa história conhecida e é para isso que ela vai desfilar. Será um desfile inesquecível para Ramos e para a Imperatriz e a escola vai lutar pelo título, pois quando ela está motivada, não há quem a segure.


Quem foi que disse que é só a Vila que faz samba também?!


Sinopse:

http://www.imperatrizleopoldinense.com.br/sinopse.html


domingo, 23 de novembro de 2008

O céu da Unidos da Tijuca








“Tijuca 2009: Uma odisséia sobre o espaço” é o enredo da Unidos da Tijuca. O enredo vai abordar o céu sobre diversos aspectos: o céu dos deuses, o céu do conhecimento, o céu das lendas e superstições, o céu infantil, o céu do cinema e o céu da realidade.


Vendo as fantasias da escola que já foram apresentadas, já deu para perceber que a escola continua com a proposta de apresentar um carnaval de fácil leitura, com fantasias simples que transmitem muito bem o que a escola deseja. Os carros também deverão seguir a mesma linha.


A Tijuca cresceu desde 2004 e hoje é considerada uma das grandes escolas do Rio. O curioso é que para que a escola fosse enxergada por todos, precisou de que passasse por ela um carnavalesco, até então, desconhecido, que era Paulo Barros. Ele entrou em 2004 e de cara conseguiu um vice-campeonato e em 2005 repetiu o resultado, ficando atrás somente da Beija-Flor. Mérito de Paulo Barros? Em grande parte, sim; foi o que se pensou na época, mas hoje constatamos o seguinte fato: desde que Paulo Barros deixou a Tijuca, em 2007, a escola sempre está entre as campeãs e sempre em colocações superiores a do seu antigo carnavalesco. E isso é uma resposta do Morro do Borel, que luta por essa escola desde a década de 30, pois embora só tenha sido “percebida” há 4 anos pelo grande público, a Tijuca é a terceira escola de samba do Rio, e por conseqüência do Brasil e esteve presente (junto com Mangueira e Portela) no primeiro desfile oficial de escolas de samba do Rio de Janeiro.


Portanto, a Tijuca merece ser respeitada com ou sem Paulo Barros e isso é o que a escola está mostrando nos últimos carnavais. Ao invés de apelar para os enredos encomendados por empresas multimilionárias, a escola veste a camisa e aposta no que é diferente, numa linguagem que foge do sempre visto. É o conceito de que desfile de carnaval não precisa de manual de instrução para ser entendido. A proposta é olhar e reconhecer. Simples. Mas não é o que a maioria das escolas segue. Pode ser que tenha um rastro de Paulo Barros na Tijuca ainda. Mas, e daí? Não tiraremos o mérito da escola e por isso, aposto que a Tijuca vem forte para conquistar o título do carnaval de 2009.


Porém, o enredo merece ressalvas. Não é perfeito, pois aqui também há a questão de um tema que é multifacetado, para poder ser transformado em setores do desfile. Isso é bom, mas não pode ser colagem de assuntos diversos. E pelas fantasias apresentadas, o setor que fala do “céu infantil” pode se confundir com o setor que fala do “céu do cinema”.


Luiz Carlos Bruno é o carnavalesco e tem tudo para fazer um bom trabalho. Rogerinho, o mestre-sala (que alguns apontam como o melhor da atualidade) voltou para escola e forma par novamente com Lucinha Nobre (a irmã do Dudu). Ou seja, só há pontos positivos. Por que não sonhar com o titulo?

Corre nos bastidores do mundo do samba que, na verdade, para a Tijuca ganhar, o jurado precisa respeitar a sua maneira e sua linguagem própria de fazer carnaval. Do contrário, vencerão as fantasias luxuosas e os carros gigantescos que ninguém entende...


Mas a Tijuca é forte e aposta que o céu a abençoará no próximo carnaval e que a vitória virá. É esperar para ver.

Sinopse:

domingo, 16 de novembro de 2008

O Clube Literário da Mocidade




A Mocidade, em 2009, vai prestar uma homenagem à literatura brasileira, falando de dois ícones da nossa literatura: Machado de Assis e Guimarães Rosa; com o enredo: “A Mocidade apresenta: Clube Literário - Machado de Assis e Guimarães Rosa... Estrelas em poesia!”.

A escolha do enredo já foi polêmica desde o começo, quando a escola anunciou que faria um enredo homenageando Machado de Assis (pegando carona nos 100 anos de sua morte), porém apresentou à imprensa uma sinopse que continha o nome de Guimarães Rosa, José Sarney, entre outros, que ninguém entendeu o que eles faziam ali, se o enredo era sobre o “bruxo do Cosme Velho”. Sem falar nas duras críticas ao texto da sinopse, que continha inúmeros erros de português, erros estes gravíssimos, ainda mais num enredo que aborda a literatura. Os jornalistas reclamaram com a escola e eles reconheceram que tinham feito uma sinopse às pressas e resolveram refazê-la e com isso, mudaram o enfoque do enredo, e agora sim, este abordará os dois escritores (a morte de Machado e o nascimento de Rosa).


Este enredo teria tudo para me conquistar e me deixar extasiado, pois como estudo Letras, um enredo sobre literatura brasileira seria um colírio para os meus olhos, mas não posso deixar de negar minha insatisfação com esse tema. Quando li a sinopse, me cansei de forma única - e olha que eu li a sinopse de todas as escolas do Grupo Especial! É uma sinopse muito extensa, com dados biográficos que em nada servem para sintetizar o enredo. Parece que fizeram de propósito. Por causa das críticas à primeira sinopse mal-feita, quiseram agora demonstrar total conhecimento do assunto e fizeram um longo texto, que é, no mínimo, tedioso.


Quando pensei num enredo sobre literatura, pensei num “estilo Paulo Barros”, ou seja, um autor e suas principais obras e estas transformadas em fantasias e em carros alegóricos. O público reconheceria visualmente as obras de um determinado autor. Seria muito interessante e daria certo, pois Paulo Barros conseguiu concretizar um enredo sobre música, em 2006, desta forma. Mas a Mocidade preferiu uma abordagem fantasiosa, mítica e vai abordar “o nascimento da estrela mística literária” (que é a fundação do tal clube literário que a escola propõe), Machado, suas obras e seu apreço pela música; Guimarães Rosa, suas obras (com ênfase em Grande Sertão: Veredas) e terminará o desfile como o último ato de uma ópera, no qual “os corpos iluminados” (leia-se: Machado e Rosa) voltam à vida para se encontrarem com “os academicistas do samba” (leia-se: a Velha Guarda da Mocidade).


Ok, eu entendo que às vezes o uso da criatividade tem que ser valorizado, mas para que viajar tanto?! Não seria mais simples abordar somente as obras dos autores?! Para que dar um “quê” de misticismo a um enredo que fala de literatura?! Juro que não entendo. E se eu não entendi lendo a sinopse; será que eu vou entender na Sapucaí, no calor da bateria?! O público e os jurados poderão ficar confusos e isso poderá prejudicar a escola. O que é uma pena, pois a Mocidade é uma escola que outrora lutava pelos primeiros lugares, e que hoje em dia, luta para continuar no Grupo Especial. E tudo isso é reflexo de uma administração confusa, visto que nos últimos 4 carnavais, passaram pela escola 4 carnavalescos diferentes, 3 mestres de bateria diferentes, 3 intérpretes diferentes, sem falar no troca-troca de coreógrafos de comissão de frente (ainda bem que agora, a escola contratou Fábio de Mello, que é o melhor coreógrafo de comissão de frente da atualidade) e de mestres-sala e portas-bandeira. Sem falar na falta de dinheiro que assola a escola, pois na década de 90, quando a Mocidade era comandada por Renato Lage e conhecida como a escola “hi-tech”; o dinheiro existia em grande quantidade, que vinha do patrono da escola, o bicheiro Castor de Andrade. Não há mais o dinheiro, mas a comunidade está viva e ela pode ser a salvação da escola. Por que não apostar na comunidade, como faz a vitoriosa Beija-Flor?!


Mas, de qualquer forma, com comunidade ou sem ela, um bom enredo ajuda, e neste caso, temo pela Mocidade e por Machado e Rosa...


Será que eles aprovarão esta homenagem?!


Sinopse:

domingo, 9 de novembro de 2008

Viradouro e a energia que vem da Bahia





Quando a Viradouro resolver falar da Bahia para o carnaval de 2009, o carnavalesco ainda era o Paulo Barros. O presidente da escola, Marco Lira, já tinha até batido o martelo: o enredo seria a reedição de um samba apresentado pelo Salgueiro, no carnaval de 1969, chamado “Bahia de todos os deuses”. O enredo falaria das belezas da Bahia e de seu povo, numa visão mais turística e cultural. Ou seja, mais do mesmo. Mas como o carnavalesco seria Paulo Barros, poderíamos esperar com certeza uma Bahia bem diferente e “arretada”.

O presidente pensou melhor e decidiu não mais reeditar um samba da escola alheia, e sim fazer seu carnaval com um samba inédito. Decisão estranha, visto que o samba do Salgueiro de 1969 é muito conhecido até hoje e com certeza, seria um “plus” para o desfile da Viradouro e levantaria a Sapucaí, já que a escola será a última a desfilar na segunda-feira de carnaval. (Para quem não lembra do samba, ele tem uma parte que é até hoje cantada nas rodas de capoeira: “zum zum zum zum zum zum, capoeira mata um...”).

Mas aí, Marco Lira pediu um carnaval com mais luxo. Paulo Barros não gostou do palpite e foi demitido.

Então, o presidente da escola chamou para o cargo de carnavalesco Milton Cunha, competentíssimo e muito inteligente. Para mim, ele é (junto com Rosa Magalhães, da Imperatriz) o carnavalesco que melhor sabe criar e desenvolver um enredo. Foi só Milton chegar para pôr ordem na casa. Falar de Bahia é com ele mesmo!

Milton propôs uma nova leitura sobre a Bahia e em 2009, apresentará o enredo: “Vira-Bahia, pura energia!”. O enredo vai enfocar a Bahia, mas como fonte de energia renovável. Vai fugir do lugar-comum, como o acarajé, o vatapá e a micareta, para falar do azeite de dendê que pode ser usado como combustível, inclusive no carro velho da Ivete... Cana-de-açúcar, mamona, girassol, canola, pinhão-manso... tudo isso estará no tabuleiro da baiana. A Viradouro promete encerrar o carnaval mostrando a energia que os baianos têm. E alguém duvida, meu rei?! Ó, paí, ó!

Na minha opinião, é um grande enredo que a escola tem na mão. Agora, é torcer para a apresentação no dia do desfile estar a altura da sinopse divulgada para a imprensa.


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A Mangueira e o povo brasileiro





A Mangueira vai homenagear o povo brasileiro, em 2009, com o enredo: “A Mangueira traz os Brasis do Brasil mostrando a formação do povo brasileiro”. O enredo é inspirado no livro “O Povo Brasileiro” de Darcy Ribeiro (que dá nome à Passarela do Samba).

Abordará a miscigenação brasileira e não faltarão índios, negros e brancos para mostrar o quanto somos diferentes, porém únicos. Esse enredo me dá a sensação de “deja vu”, de “já vi esse filme (ou desfile) antes...”.

Por que não falar de Cartola, que completou 100 anos de nascimento?! Não... A Mangueira não ouve os conselhos do povo do samba e escolheu em 2008 falar sim dos 100 anos, mas do frevo. E deu no que deu. A pior colocação de sua história. Um amarguíssimo décimo lugar. Só a frente da Porto da Pedra e da São Clemente, que fora rebaixada para o Grupo de Acesso.

Por que, Mangueira?! Por que, em 2009, falar de um tema tão batido?! Sinceramente, não sei. Não sei o porquê desta escolha e também não sei o que esperar do desfile da verde-e-rosa, pois saiu o “mago das cores” (Max Lopes), que tinha um estilo barroco de fazer carnaval (leia-se: muito luxo) e agora entra Roberto Szaniecki, que embora tenha feito carnavais mais “limpos” na Grande Rio, com design moderno; também possui um estilo barroco. Eis a minha dúvida. Será que a Mangueira não trocou seis por meia-dúzia?! Ou Roberto vai trazer uma Mangueira com cara de Grande Rio (leia-se: muito, mas muito luxo mesmo + carros tão grandes que quebram no meio da Avenida)?!

É esperar para ver...

Que saudades do Jamelão!


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O amor da Portela






A Portela, em 2009, vai falar do amor com o enredo: “E por falar em Amor... Onde anda você?”. O enredo foi sugerido e escrito pelo jornalista Cláudio
Vieira e muito bem acatado pela Portela, pois também foi de autoria dele o enredo de 2008, que falava de preservação da natureza (um enredo que ninguém levava fé, mas que levou a Portela ao Desfile das Campeãs depois de 10 anos de ausência, num honrável quarto lugar).

O amor será mostrado de diversas formas: vai lembrar o amor dos cavaleiros que lutavam pelo Rei Arthur, vai mostrar o amor de um rei indiano que após perder sua amada, mandou construir um monumento (o Taj Mahal), o amor pela liberdade dos negros africanos, amor no cinema, amor de mãe e terminará falando do amor de carnaval. Afinal, o triângulo amoroso mais famoso do mundo está composto de personagens do carnaval: Pierrô, Arlequim e Colombina. A escola não vai esquecer de mostrar no seu desfile o amor do portelense pela sua escola querida.



Particularmente, acho um enredo muito bonito e lendo a sinopse, quase me convenci de que era bom. Mas, volto a frisar: dá para transformar algo abstrato em carnaval concreto?! É muito complicado falar de sentimentos. Sem falar, é claro, na colagem de assuntos diversos que nada têm a ver uns com os outros, exceto que envolvem o amor. Forçaram a barra novamente.

Os carnavalescos são caras novas para o grande público (Lane Santana e Jorge Caribe), mas podemos esperar um desfile bonito, pois os carnavalescos passaram pelos grupos de acesso e sabem lidar com a criatividade, pois lá não há tanto dinheiro como no Grupo Especial. Penso que não é um bom enredo para ganhar carnaval, mas como dizem que “treino é treino e jogo é jogo”, temos que esperar, pois o carnaval é conquistado na Sapucaí. Mas não posso negar que eu temo pela Portela...

Sinopse: http://www.gresportela.com.br/carnaval2009/sinopse2009.php

domingo, 19 de outubro de 2008

Os tambores do Salgueiro




O Salgueiro retoma às suas origens e vai buscar no tambor o tema do seu carnaval. Sim, isso mesmo. Simplesmente “Tambor”. Esse é o titulo do enredo. Curto e grosso.

A escola fez história a partir da década de 50 com enredos de temática africana, enredos estes que somam 5 vitórias das 8 que a agremiação possui; isso sem falar nos enredos afro que não foram campeões. Já falou de Zumbi, Chica da Silva, Chico-Rei, Candaces, criação do mundo segundo os Yorubás... enfim, já visitou e revisitou a África em muitos carnavais. Em 2009, vai contar na avenida a história do tambor. Eu pergunto: há tanto a se falar deste instrumento a ponto de transformá-lo em enredo de carnaval? Há como pegar esse tema e transformá-lo em 32 alas e 8 carros alegóricos? Renato Lage aposta que sim.

A verdade é que quando se mexe com temas afro-brasileiros, o salgueirense fica feliz e motivado. Essa é a aposta de escola. Resgate ao passado. Contagiar a comunidade. Falar de tambor.

Vai falar do instrumento usado para comunicação na pré-história, nas religiões, no tambor da inclusão (Funk in Lata já confirmou presença na bateria), vai falar da Timbalada, do Olodum e vai fechar o desfile homenageando o tambor da bateria Furiosa da Tijuca, comandada por anos e anos pelo grande Mestre Louro, que já foi sambar no céu, mas que continua no coração de todos os membros da Academia do Samba. Ainda vai sugerir que dentro de cada ser humano, bate um tambor, que dita o ritmo da nossa vida, que é o coração.

O enredo é interessante, mas pode parecer “mais do mesmo” e o jurado “descer” a caneta no dia do desfile. Parece que quiseram fazer uma homenagem ao Mestre Louro, mas como não havia como transformar essa homenagem em um desfile, “incharam” o enredo com outros sub-temas, criando um fio condutor, que neste caso é o tambor.

Mas de qualquer forma, meu coração já tá batucando de tanta ansiedade para ver, mais uma vez, o carnavalesco que outrora fora conhecido como “hi-tech”, apresentar um enredo rústico, com muita palha e juta. Axé, Salgueiro!


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A curiosidade da Porto da Pedra



A Porto da Pedra apresentará, em 2009, o enredo:“Não me proíbam criar, pois preciso curiar! Sou o país do futuro e tenho muito a inventar!”, que abordará a curiosidade através dos tempos. E para isso, passará pela descoberta do fogo (fruto da curiosidade do homem primitivo), por Pandora (que por curiosidade abriu a caixa proibida), pela Idade Média (a curiosidade dos alquimistas), pela Renascença, pelo Apocalipse, pelos “curiosos do amanhã” (aqueles que querem saber o seu futuro e que para isso, apelam para cartas, búzios e bolas de cristais), pelos grandes inventores curiosos e terminará seu desfile apresentando o Brasil como o “País dos Curiosos”.


A intenção do carnavalesco Max Lopes é até interessante, pois depois de anos fazendo enredos patrocinados na Mangueira, agora tem a liberdade necessária para poder criar um enredo que é só seu e de mais ninguém. Para isso, abusou da criatividade, mas os jurados e o público podem não entender a mensagem, pois o que parece é que o enredo é uma colagem de assuntos diversos guiados por um fio condutor (a curiosidade), sem muito nexo às vezes (ou na maioria delas). Acho que Max forçou a barra um pouquinho, mas o carnavalesco promete que apresentará carros grandiosos como nunca vistos. Então, tá. Já estou curioso para ver...


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

As Sereias do Império Serrano



A partir de hoje, postarei aqui uma análise que fiz dos enredos das escolas de samba do Rio de Janeiro para o carnaval de 2009. Espero a opinião de todos!





O Império Serrano é uma escola que surgiu na década de 40, muito tradicional no carnaval do Rio, mas que nos últimos anos não vem apresentando grandes desfiles. Isso se deve à maneira de como a escola vinha sendo administrada. Hoje o Império parece estar renascendo, buscando se reestruturar para voltar a lutar por títulos. Afinal, é a escola da Serrinha, de Madureira, de Dona Ivone Lara, do grande compositor Silas de Oliveira e de tantos outros bambas. Pensando em resgatar o seu passado, a escola optou por uma reedição para o próximo carnaval.



Quando a LIESA ofertou 500 mil reais de patrocínio à escola que reeditasse um samba no carnaval de 2009, muitas se interessaram, mas só o Império decidiu por esse caminho. Ótimo. O Império tem uns dos melhores sambas de todos os tempos e possui inclusive o samba que é chamado de “hino dos sambas-enredo” que é “Aquarela Brasileira”, de Silas de Oliveira; que já fora reeditado no carnaval de 2004.



Sabendo que samba bom não faltaria para o Império, o mundo do samba ficou especulando qual enredo o Império reeditaria. Falou-se em reeditar “Heróis da Liberdade” (1969), “Bum bum paticumbum prugurundum”(1982) ou até mesmo “Os Cinco Bailes da História do Rio” (1965); porém o Império surpreendeu a todos escolhendo o samba do carnaval de 1976, chamado “A lenda das sereias, rainhas do mar”, que a carnavalesca Márcia Lage (esposa de Renato Lage) mudou convenientemente para “A lenda das Sereias e os Mistérios do Mar”.




O enredo promete abordar os fascínios do mar, levando para o lado místico e não vai se limitar a falar somente das sereias, como era o enredo original de 1976.




Porém, fica a pergunta: esse enredo será suficiente para fazer o Império ficar no Grupo Especial? Eu tenho dúvidas. Talvez fosse o momento de jogar pesado e apresentar um samba mais conhecido e mexer com a emoção do imperiano. Mas a carnavalesca garante que o enredo dará um ótimo visual na avenida e que o samba é bom. Então, é esperar para ver. Ver o Império de cara nova, com samba antigo e ver também como se sai a carnavalesca, que pela primeira vez assinará sozinha um carnaval no grupo Especial.


quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Pensamento e palavra na aquisição de língua estrangeira

A aquisição de uma segunda língua é um processo que difere da aquisição da língua materna, pois a língua materna é adquirida pelas crianças inconscientemente. A criança precisa constituir-se como sujeito e este processo só é possível através da linguagem. Não há sujeito sem linguagem, pois esta materializa o pensamento. Essa inconsciência da aquisição da primeira língua por parte da criança se dá pelo fato de não se poder registrar o exato momento no qual a criança passa a atribuir significados ao mundo que a rodeia, ou seja, o primeiro momento em que significantes se transformam em palavras dotadas de significados na mente da criança estará perdido para sempre. Nesta fase, se dá a “inconsciência” da aquisição da língua, pois a criança não percebe que está adquirindo àquela que será sua língua para sempre.

No âmbito da aquisição de língua estrangeira, a aquisição ocorre de maneira consciente, visto que uma pessoa que deseja experimentar uma língua estrangeira, já possui a sua língua materna bem estruturada e internalizada. Também, pode-se justificar tal consciência da aprendizagem de uma segunda língua, devido ao fato de que as pessoas se motivam, se preparam e desejam alcançar proficiência em uma segunda língua; no que fica clara a diferença em relação à aquisição da primeira língua, no qual a criança não possui “motivação” para aprender tal língua. Na verdade, a motivação da criança é externa, ou seja, o meio social no qual ela está inserida é que exigirá dela a linguagem.

Voltando para a questão da aquisição de segunda língua, é importante destacar a relação entre pensamento e palavra envolvida neste processo. Para isso, desejamos comparar com a relação entre pensamento e palavra na aquisição da primeira língua; para traçarmos as semelhanças e as diferenças entre os processos. Vejamos o que nos diz Vygotsky:

“Quando passa a dominar a fala exterior, a criança começa por uma palavra, passando em seguida a relacionar duas ou três palavras entre si; um pouco mais tarde, progride das frases simples para as mais complexas, e finalmente chega à fala coerente, constituída por uma série dessas frases; em outras palavras, vai da parte para o todo. Por outro lado, quanto ao significado, a primeira palavra da criança é uma frase completa. Semanticamente, a criança parte do todo, de um complexo significativo, e só mais tarde começa a dominar as unidades semânticas separadas, os significados das palavras, e a dividir o seu pensamento, anteriormente indiferenciado, nessas unidades. Os aspectos semântico e externo da fala seguem direções opostas em seu desenvolvimento – um vai do particular para o geral, da palavra para a frase, e o outro vai do geral para o particular, da frase para a palavra (Vygotsky, 108,109).”

Podemos observar que na aprendizagem de língua estrangeira, no âmbito das palavras, o processo é idêntico à aquisição da língua materna. Um aprendiz iniciante de segunda língua, que é antes de tudo, aprendiz consciente do processo de aquisição de tal língua e consciente também de que já possui a sua própria língua; para construir macro-sentidos e falar a língua que almeja, começa (como as crianças na primeira língua) “por uma palavra, depois relaciona outras palavras (poucas) até que começa a construir frases simples. Um pouco mais tarde, progride das frases simples para as mais complexas, e finalmente chega à fala corrente (Vygotsky, 109).”

A diferença principal neste plano inicial entre o aprendiz de língua estrangeira e a criança que adquire língua materna é que quando o aprendiz, neste primeiro contato com a língua estrangeira, começa a construir sentidos nesta língua somente por palavras até chegar às estruturas mais complexas, irá servir-se da língua materna; ou seja, o aprendiz vai intercalar palavras da segunda língua com palavras da primeira, pois ele está recodificando o mundo ao qual já conhecia em sua língua original. A língua materna é muito importante neste primeiro momento, pois ela servirá de base para uma futura “emancipação” e neste momento posterior, o aprendiz já será capaz de construir macroestruturas na língua estrangeira.

Porém, a diferença está na organização do pensamento na aquisição de segunda língua. Como vimos, na língua materna, a criança parte de “um complexo significativo, e só mais tarde começa a dominar as unidades semânticas separadas, [...] vai do geral para o particular (Vygotsky, 109).” Na língua estrangeira, o pensamento caminha junto com a palavra quanto a sua estruturação na mente do aprendiz. E essa diferença pode-se atribuir ao fato de ser um aprendizado consciente e calcado (nos estágios iniciais) na língua materna, no qual o aprendiz já possui o domínio das unidades semânticas separadas.

Como exemplo, imaginemos que há uma criança frente a um aquário no qual há vários peixes nadando. Um adulto aponta para o aquário e diz: “peixe”. A criança, para fazer sentido com essa informação, vai partir do micro para o macro, ou seja, parte da palavra peixe, mas seu pensamento vai partir do macro para o micro, e por isso, neste primeiro momento, ela vai pensar que o significante peixe engloba o significado de “peixe + água + pedrinhas coloridas no fundo + vidro (aquário)”. Ela vai imaginar que peixe será tudo aquilo que estará à sua frente. Nesta etapa de seu desenvolvimento, a criança ainda não é capaz de segmentar o seu pensamento em unidades menores.

Agora, imaginemos que temos um aprendiz de língua estrangeira frente a um aquário e um professor desta língua (pensemos no inglês como exemplo de segunda língua) aponta para o aquário e diz: “fish”. O aprendiz poderá até se confundir e pensar que o significante “fish” se refere ao significado “aquário”, porém ele dificilmente aglutinaria unidades semânticas. Ou ele pensaria que é o peixe ou que é o aquário, mas não pensaria que “fish” significasse “peixe + aquário com pedrinhas no fundo + água”.

Essa impossibilidade de aglutinar unidades semânticas é devido ao fato que a língua materna já está internalizada no aprendiz e serve como suporte para a percepção e compreensão da língua estrangeira. Ou seja, com este exemplo, podemos observar que na aquisição de segunda língua, o pensamento parte do micro para o macro, juntamente com a palavra; pois o aprendiz desta outra língua já possui a língua materna como referência. Para que fique claro, nos referimos a um aprendiz que não seja criança, estamos usando como exemplo um aprendiz que já tenha consciência da aquisição da língua estrangeira e que já tenha superado este momento inicial da aquisição da primeira língua (Vygotsky afirma que cerca dos 2 anos de idade, as curvas de evolução do pensamento e da linguagem encontram-se e passam a exercer mútua dependência, ou seja, interdependência).

Embora estejamos comparando um aprendiz de segunda língua falante fluente de sua língua materna com uma criança, acreditamos que tal comparação seja plausível, pois “na aprendizagem de um língua estrangeira, existe todo um tempo de nominação. Mostra-se um objeto ou sua imagem e ele é nomeado. Esse momento evoca, certamente, aquele no qual a criança pequena experimenta seu novo poder nomeando aquilo que a rodeia, sob o olhar aprovador do adulto (Christine Revuz, 222).”

Apesar do nosso exemplo, é totalmente possível haver uma aquisição inconsciente de uma “segunda língua”, porém esse processo se dará em crianças expostas ao mesmo tempo a duas línguas. E no processo de aprendizagem dessas duas línguas, ocorrerão as mesmas etapas de desenvolvimento da linguagem já citadas por Vygotsky. A essa aquisição simultânea de duas línguas chamamos bilingüismo.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Salve o mensageiro!


O carteiro é aguardado ansiosamente.

E é saudado solenemente

Quando traz algo que esperamos muito.

 

Ele pode trazer consigo sonhos,

Esperanças,

Cobranças,

Propagandas,

Um telegrama,

Um cartão postal de um lugar distante,

Uma mensagem desejada,

E até mesmo uma carta da pessoa amada.

 

É perseguido,

Mas isso não o intimida.

Acostuma-se.

Acha até graça.

 

Tem uma missão e a persegue.

Vai até o fim do mundo

Para cumprir o que lhe foi designado.

 

 

O carteiro é um peregrino.

 

 

Salve o mensageiro!

 

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sou um assaltante


Essa semana aconteceu um fato curioso. Entrei num ônibus na Barra da Tijuca e o cobrador pensou que eu fosse assaltar o ônibus. Não me deixou passar na roleta. Na hora eu não entendi direito o porquê, até que percebi que ele estava muito nervoso com a minha presença. Essa atitude dele me fez pensar. Eu deveria ter ficado com muita raiva, mas na hora tamanha foi a minha perplexidade que eu não falei nada. Minha consciência estava limpa. Eu sei que eu não ia fazer nada...

Mas por que ele achou que eu poderia assaltar o ônibus? Pela minha roupa?! Não. Ele não teria ido com a minha cara? Talvez. Mas acho que foi mesmo pela minha cor. Mas tudo bem, eu o entendo. Não sou hipócrita. Quem não fica mais atento quando entra um negro em um ônibus? Se usar boné então... Ficamos ligados! E se estiver de chinelo?! O ônibus nem pára, na maioria das vezes.

Eu poderia estar revoltado pela atitude preconceituosa do cobrador, mas não estou, pois eu poderia ser um dos que estavam naquele ônibus e inclusive, poderia ter tido a mesma reação. Mas isso não justifica o ato em si. É somente um pequeno retrato do preconceito racial que existe neste país e que muitos insistem em negar. Não há justificativa para o preconceito, mas aprendi com essa experiência. Paga-se um preço muito caro por ser negro num país onde a maioria é de negros. Contraditório? Sim. Há país mais contraditório que esse?!

Enquanto nos preocupamos com os negrinhos que podem nos roubar, branquinhos engomadinhos nos roubam todo o tempo. Um branco de terno-e-gravata será sempre um branco de terno-e-gravata, não importando o que ele faça. Para eles, não há prisão. Sempre há um habeas corpus saindo do forno, a todo o momento. E o pobre negro apodrece na prisão, às vezes por roubar para comprar um pão...

Cada um pode suspeitar de quem quiser.

Mas eis a pergunta que não quer calar:

em quê fundamenta-se o nosso medo?



Podemos nos surpreender com a resposta.

domingo, 24 de agosto de 2008

Qual o futuro do esporte brasileiro?


Acabaram os Jogos Olímpicos de Pequim. E mais uma vez vemos uma participação brasileira muito discreta. Esperávamos mais, ainda mais depois de termos sediado os Jogos Pan-americanos. Mas, Olimpíadas é outro assunto. De 4 em 4 anos vemos atletas ganharem medalhas, quebrarem recordes e o Brasil, com raras exceções, sendo apenas figurante.

Talvez seja o momento do Governo Federal acordar e começar a investir no esporte. É possível transformar o Brasil numa potencia olímpica e ser não tão somente o país do futebol, mas também o país dos outros esportes.

Poderiam ser criados pólos esportivos nas diversas regiões brasileiras, visando o desenvolvimento e o surgimento de atletas capazes de brigarem por medalhas. Se a Jamaica, que é menor do que o Estado do Rio de Janeiro, ganha mais medalhas do que o Brasil, um país maior do que a Europa, é porque algo está errado com a nossa política desportiva (ou que a dos jamaicanos é muito boa). Alias, a política desportiva no Brasil é quase inexistente...

É hora de acordar! Tem muita gente boa querendo brilhar no alto do pódio esperando somente uma oportunidade.

Olimpíadas no Brasil seria ótimo e eu apoio essa iniciativa. Mas, pensemos bem: não vamos também preparar atletas para quando esse dia chegar? Ou vamos gastar bilhões de reais sediando um evento para que os outros países venham vencer barreiras, quebrar recordes e serem campeões em terras brasileiras?! Se é somente pra ver de perto a vitória alheia, sai bem mais em conta ver pela televisão os Jogos Olímpicos em qualquer outro lugar do mundo...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Pensamentos medíocres


O Brasil está nas Olimpíadas. Levou uma delegação de 270 atletas e se orgulha disso. É a maior delegação na historia dos Jogos Olímpicos. Ótimo. Parabéns a todos os atletas.

Começam as disputas por medalhas. Observamos que a China lidera o quadro total, enquanto o Brasil soma somente três medalhas de bronze, até então. “Motivo de orgulho”. “Chegar numa olimpíada não é fácil”. “Ganhar o bronze está de bom tamanho”. É o que dizem, de um modo geral, os atletas brasileiros e é o que repete ressonante a nossa querida imprensa.

Mas o pensamento de se contentar com o bronze, de se contentar com pouco, é o nosso velho inimigo: o complexo de inferioridade que todos os brasileiros possuímos. Não devemos aceitar uma participação numa final olímpica, só por estar numa final olímpica. É pouco, sim! Temos que pensar como todos os atletas pensam: em competir para ganhar. O Brasil pode até competir para ganhar, mas se não ganha, está tudo bem... Não podemos mais pensar assim. Isso é reflexo de uma imaturidade psicológica que atravessa os tempos. Seria um reflexo da velha colônia submissa explorada pela metrópole?!

Acabei de ouvir no Jornal Nacional uma entrevista de Jade Barbosa, ginasta que disputou a final por equipes, na qual ela dizia “que olha em volta e vê tanta gente boa, que é difícil controlar o nervosismo”. Como assim “vê tanta gente boa?!” Não se diminua. Você e suas companheiras são tão boas quanto às outras!

Ainda sobre a ginástica artista, Pedro Bial anunciou com sorrisos “que as meninas estavam de parabéns pelo oitavo lugar e que não ficaram em último, mas que estão entre as oito melhores do mundo”. É verdade, mas foram as últimas colocadas na competição, sim. Como negar este fato?! Vamos parar com essa mediocridade!

Critica-se tanto o modelo chinês de preparação de atletas, mas eles estão mostrando que a receita está dando certo. Tanto é, que as chinesas levaram o ouro nesta competição de ginástica. Os chineses querem vencer e vencem, talvez não porque treinem mais que os brasileiros, e sim porque a postura deles seja outra. No oriente, o segundo lugar não é motivo de orgulho. O segundo lugar é apenas o primeiro lugar dos últimos colocados. Alguns ocidentais devem achar cruel este pensamento, mas muitos orientais também devem achar, no mínimo, engraçado o fato de se achar que estar em oitavo lugar numa competição na qual há oito atletas (ou equipes) é algo positivo...

Talvez se não aceitássemos tudo tão facilmente, obteríamos melhores resultados nas Olimpíadas e até na própria vida. Chega de achar que o que é de fora é bom ou melhor que o que é nosso. Vamos nos valorizar! Às vezes, exigimos um respeito do mundo para conosco, que na verdade deve nascer dentro de cada um. Ninguém irá nos respeitar, se não nos respeitarmos primeiro. E respeito é bom e nós gostamos...

Respeite-se, Brasil!

domingo, 10 de agosto de 2008

Eu vejo novela, e você?


Há quem odeie e há quem ame, mas a verdade é que a novela faz parte da cultura brasileira. Isso mesmo. Novela, a meu ver, é cultura sim. Muitos podem dizer que não concordam que novela seja cultura, pois “não mostra nada que preste”, ou que aliene o telespectador, que para entender novela não se precisa pensar muito, etc. Mas eu não concordo com muitas coisas que são ditas a respeito das novelas. Primeiro que quando digo que novela é cultura, é porque entendo como cultura qualquer manifestação de um povo. E a novela brasileira mostra isso muito bem: é uma manifestação do povo feita para o povo. O Brasil produz novela para os brasileiros. Muitas são vendidas para outros paises, é verdade, mas em primeiro lugar está sempre o brasileiro, tanto que novela que não faz sucesso aqui, quase nunca é exportada. Quem foi que disse que a novela aliena as pessoas? O brasileiro tem muito censo critico quando o assunto é novela... Quando ele não gosta de uma trama ou de um personagem, autores são obrigados a mudar o destino dos personagens ou inclusive matar algum deles, pois quem manda na novela é o publico que a assiste. Por isso que se diz que novela é uma obra aberta, que vai sendo composta conforme vai sendo exibida segundo os gostos do “freguês”.

Quando dizem que a novela não mostra nada que seja bom e a criticam por isso, acho que os que a acusam estão cometendo uma injustiça, pois a novela somente retrata o que está na sociedade (viu como é cultura?!). Então, se vemos filhos com dois pais ou duas mães, mortes, assaltos, traições, casais hetero, homo e pansexuais; não há nada de errado com a novela. Reclamem com a vida, pois ela é assim...

Agora, sobre o fato de que novela não faz refletir muito, concordo em partes. E a parte que eu concordo é referente à sua estrutura. A novela já tem sua estrutura pronta, suas características de gênero textual, uma receita de bolo que os autores procuram seguir para ter audiência. O escritor de novelas Manoel Carlos declarou uma vez que “escreve sempre a mesma novela”. Ele foi muito sincero ao assumir isso publicamente, mas duvido que o público já não tenha percebido. Os clichês estão em todas elas, mas o publico gosta e quer ver é isso mesmo: mais do mesmo. Mocinha pobre que se apaixona pelo mocinho rico, ou vice-versa. Vilã que é capaz de tudo para conseguir o que quer, inclusive matar. Mocinha sofre a novela toda e no final é feliz com o seu verdadeiro amor, após da morte do vilão ou vilã, é claro. Alguns especialistas em televisão apontam que o publico já esta cansado dessa formula de se fazer novela. Mas a pergunta que eu lanço é: será mesmo?!

Para responder esta pergunta, chega agora ao horário nobre João Emanuel Carneiro, autor de A Favorita, da Rede Globo. Confesso que essa novela me chamou muito a atenção já no primeiro capítulo, pela excelente forma como os personagens foram apresentados. Me identifiquei logo com Flora, a ex-presidiaria que pagou por um crime que não cometeu, e com a megera Donatella Fontini. O curioso é que Claudia Raia tem tamanho carisma que não consegui simplesmente odiar Donatella. Passaram-se alguns capítulos e eu fui percebendo que havia algo de diferente nesta novela. A vilã aparecia muito mais do que a protagonista. A cada escândalo que Donatella fazia, meus olhos de “noveleiro” brilhavam... Estranho, muito estranho... Aguardei. E o Brasil e eu nos deparamos com uma verdade: sim, fomos enganados pelo autor da novela! Flora não é a protagonista e sim, a vilã da história!! Confesso que fiquei e estou muito decepcionado com a novela, pois eu queria ver Donatella como culpada, mas isso é opinião pessoal. Há quem tenha gostado dessa reviravolta e há os que tenham odiado. Mas o que eu não posso deixar de reconhecer é o genialismo deste escritor. Ele, finalmente, quebrou o paradigma, jogou fora a receita de bolo, inovou! Até que enfim! Chega de mesmice! Eu sou um dos que não gostou, mas o autor foi muito audacioso e se a novela for um fracasso daqui pra frente, não importa. João Emanuel Carneiro já escreveu seu nome na historia da televisão brasileira. Foi algo impensável, digno de Janete Clair. Parabéns a esse autor!

Mas eu continuo preferindo o mais do mesmo...

domingo, 3 de agosto de 2008

Até mais, velho amigo!


Tu me acompanhaste por muitos anos, é verdade.

Sempre estiveste aqui, nos momentos felizes e nos tristes também.

Nunca me abandonaste.

Mas hoje me despeço de ti.

Hoje temos que dizer adeus.

Seria um “até logo”?!

Não. Já é tempo de romper os laços.

É hora de libertar-me. Preciso aprender a viver sem ti.

Preciso ganhar minha independência.

Preciso ver a vida com meus próprios olhos.


Mas obrigado por ter estado todos estes anos comigo,

Acompanhando-me a todos os lugares.

Já estou sentindo saudades,

Mas eu prometi para mim mesmo que eu seria forte nesta hora tão difícil,

Que é dizer adeus...


É triste, eu sei.

Mas sei também que para mim começará uma nova era.

Sei que vai ser bom para ti também,

Que finalmente poderás descansar depois de tantos anos.


Tu me fizeste enxergar muitas coisas.

Fizeste-me ver a vida como ela é.

Mas agora, meus olhos ganharão novas cores e eu verei novas formas.


Fica tranqüilo que nunca hei de esquecer-me de ti.

Não duvides nunca disso.

Foste muito importante para mim durante todos esses anos.

Ouviste bem?

Durante todos esses anos eu não consegui viver longe de ti.

Não duvides dos meus sentimentos, que são verdadeiros.


Finalmente,

Despeço-me de ti.


Obrigado por tudo!




Agora, usarei lentes.