segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O amor da Portela






A Portela, em 2009, vai falar do amor com o enredo: “E por falar em Amor... Onde anda você?”. O enredo foi sugerido e escrito pelo jornalista Cláudio
Vieira e muito bem acatado pela Portela, pois também foi de autoria dele o enredo de 2008, que falava de preservação da natureza (um enredo que ninguém levava fé, mas que levou a Portela ao Desfile das Campeãs depois de 10 anos de ausência, num honrável quarto lugar).

O amor será mostrado de diversas formas: vai lembrar o amor dos cavaleiros que lutavam pelo Rei Arthur, vai mostrar o amor de um rei indiano que após perder sua amada, mandou construir um monumento (o Taj Mahal), o amor pela liberdade dos negros africanos, amor no cinema, amor de mãe e terminará falando do amor de carnaval. Afinal, o triângulo amoroso mais famoso do mundo está composto de personagens do carnaval: Pierrô, Arlequim e Colombina. A escola não vai esquecer de mostrar no seu desfile o amor do portelense pela sua escola querida.



Particularmente, acho um enredo muito bonito e lendo a sinopse, quase me convenci de que era bom. Mas, volto a frisar: dá para transformar algo abstrato em carnaval concreto?! É muito complicado falar de sentimentos. Sem falar, é claro, na colagem de assuntos diversos que nada têm a ver uns com os outros, exceto que envolvem o amor. Forçaram a barra novamente.

Os carnavalescos são caras novas para o grande público (Lane Santana e Jorge Caribe), mas podemos esperar um desfile bonito, pois os carnavalescos passaram pelos grupos de acesso e sabem lidar com a criatividade, pois lá não há tanto dinheiro como no Grupo Especial. Penso que não é um bom enredo para ganhar carnaval, mas como dizem que “treino é treino e jogo é jogo”, temos que esperar, pois o carnaval é conquistado na Sapucaí. Mas não posso negar que eu temo pela Portela...

Sinopse: http://www.gresportela.com.br/carnaval2009/sinopse2009.php

domingo, 19 de outubro de 2008

Os tambores do Salgueiro




O Salgueiro retoma às suas origens e vai buscar no tambor o tema do seu carnaval. Sim, isso mesmo. Simplesmente “Tambor”. Esse é o titulo do enredo. Curto e grosso.

A escola fez história a partir da década de 50 com enredos de temática africana, enredos estes que somam 5 vitórias das 8 que a agremiação possui; isso sem falar nos enredos afro que não foram campeões. Já falou de Zumbi, Chica da Silva, Chico-Rei, Candaces, criação do mundo segundo os Yorubás... enfim, já visitou e revisitou a África em muitos carnavais. Em 2009, vai contar na avenida a história do tambor. Eu pergunto: há tanto a se falar deste instrumento a ponto de transformá-lo em enredo de carnaval? Há como pegar esse tema e transformá-lo em 32 alas e 8 carros alegóricos? Renato Lage aposta que sim.

A verdade é que quando se mexe com temas afro-brasileiros, o salgueirense fica feliz e motivado. Essa é a aposta de escola. Resgate ao passado. Contagiar a comunidade. Falar de tambor.

Vai falar do instrumento usado para comunicação na pré-história, nas religiões, no tambor da inclusão (Funk in Lata já confirmou presença na bateria), vai falar da Timbalada, do Olodum e vai fechar o desfile homenageando o tambor da bateria Furiosa da Tijuca, comandada por anos e anos pelo grande Mestre Louro, que já foi sambar no céu, mas que continua no coração de todos os membros da Academia do Samba. Ainda vai sugerir que dentro de cada ser humano, bate um tambor, que dita o ritmo da nossa vida, que é o coração.

O enredo é interessante, mas pode parecer “mais do mesmo” e o jurado “descer” a caneta no dia do desfile. Parece que quiseram fazer uma homenagem ao Mestre Louro, mas como não havia como transformar essa homenagem em um desfile, “incharam” o enredo com outros sub-temas, criando um fio condutor, que neste caso é o tambor.

Mas de qualquer forma, meu coração já tá batucando de tanta ansiedade para ver, mais uma vez, o carnavalesco que outrora fora conhecido como “hi-tech”, apresentar um enredo rústico, com muita palha e juta. Axé, Salgueiro!


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A curiosidade da Porto da Pedra



A Porto da Pedra apresentará, em 2009, o enredo:“Não me proíbam criar, pois preciso curiar! Sou o país do futuro e tenho muito a inventar!”, que abordará a curiosidade através dos tempos. E para isso, passará pela descoberta do fogo (fruto da curiosidade do homem primitivo), por Pandora (que por curiosidade abriu a caixa proibida), pela Idade Média (a curiosidade dos alquimistas), pela Renascença, pelo Apocalipse, pelos “curiosos do amanhã” (aqueles que querem saber o seu futuro e que para isso, apelam para cartas, búzios e bolas de cristais), pelos grandes inventores curiosos e terminará seu desfile apresentando o Brasil como o “País dos Curiosos”.


A intenção do carnavalesco Max Lopes é até interessante, pois depois de anos fazendo enredos patrocinados na Mangueira, agora tem a liberdade necessária para poder criar um enredo que é só seu e de mais ninguém. Para isso, abusou da criatividade, mas os jurados e o público podem não entender a mensagem, pois o que parece é que o enredo é uma colagem de assuntos diversos guiados por um fio condutor (a curiosidade), sem muito nexo às vezes (ou na maioria delas). Acho que Max forçou a barra um pouquinho, mas o carnavalesco promete que apresentará carros grandiosos como nunca vistos. Então, tá. Já estou curioso para ver...


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

As Sereias do Império Serrano



A partir de hoje, postarei aqui uma análise que fiz dos enredos das escolas de samba do Rio de Janeiro para o carnaval de 2009. Espero a opinião de todos!





O Império Serrano é uma escola que surgiu na década de 40, muito tradicional no carnaval do Rio, mas que nos últimos anos não vem apresentando grandes desfiles. Isso se deve à maneira de como a escola vinha sendo administrada. Hoje o Império parece estar renascendo, buscando se reestruturar para voltar a lutar por títulos. Afinal, é a escola da Serrinha, de Madureira, de Dona Ivone Lara, do grande compositor Silas de Oliveira e de tantos outros bambas. Pensando em resgatar o seu passado, a escola optou por uma reedição para o próximo carnaval.



Quando a LIESA ofertou 500 mil reais de patrocínio à escola que reeditasse um samba no carnaval de 2009, muitas se interessaram, mas só o Império decidiu por esse caminho. Ótimo. O Império tem uns dos melhores sambas de todos os tempos e possui inclusive o samba que é chamado de “hino dos sambas-enredo” que é “Aquarela Brasileira”, de Silas de Oliveira; que já fora reeditado no carnaval de 2004.



Sabendo que samba bom não faltaria para o Império, o mundo do samba ficou especulando qual enredo o Império reeditaria. Falou-se em reeditar “Heróis da Liberdade” (1969), “Bum bum paticumbum prugurundum”(1982) ou até mesmo “Os Cinco Bailes da História do Rio” (1965); porém o Império surpreendeu a todos escolhendo o samba do carnaval de 1976, chamado “A lenda das sereias, rainhas do mar”, que a carnavalesca Márcia Lage (esposa de Renato Lage) mudou convenientemente para “A lenda das Sereias e os Mistérios do Mar”.




O enredo promete abordar os fascínios do mar, levando para o lado místico e não vai se limitar a falar somente das sereias, como era o enredo original de 1976.




Porém, fica a pergunta: esse enredo será suficiente para fazer o Império ficar no Grupo Especial? Eu tenho dúvidas. Talvez fosse o momento de jogar pesado e apresentar um samba mais conhecido e mexer com a emoção do imperiano. Mas a carnavalesca garante que o enredo dará um ótimo visual na avenida e que o samba é bom. Então, é esperar para ver. Ver o Império de cara nova, com samba antigo e ver também como se sai a carnavalesca, que pela primeira vez assinará sozinha um carnaval no grupo Especial.


quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Pensamento e palavra na aquisição de língua estrangeira

A aquisição de uma segunda língua é um processo que difere da aquisição da língua materna, pois a língua materna é adquirida pelas crianças inconscientemente. A criança precisa constituir-se como sujeito e este processo só é possível através da linguagem. Não há sujeito sem linguagem, pois esta materializa o pensamento. Essa inconsciência da aquisição da primeira língua por parte da criança se dá pelo fato de não se poder registrar o exato momento no qual a criança passa a atribuir significados ao mundo que a rodeia, ou seja, o primeiro momento em que significantes se transformam em palavras dotadas de significados na mente da criança estará perdido para sempre. Nesta fase, se dá a “inconsciência” da aquisição da língua, pois a criança não percebe que está adquirindo àquela que será sua língua para sempre.

No âmbito da aquisição de língua estrangeira, a aquisição ocorre de maneira consciente, visto que uma pessoa que deseja experimentar uma língua estrangeira, já possui a sua língua materna bem estruturada e internalizada. Também, pode-se justificar tal consciência da aprendizagem de uma segunda língua, devido ao fato de que as pessoas se motivam, se preparam e desejam alcançar proficiência em uma segunda língua; no que fica clara a diferença em relação à aquisição da primeira língua, no qual a criança não possui “motivação” para aprender tal língua. Na verdade, a motivação da criança é externa, ou seja, o meio social no qual ela está inserida é que exigirá dela a linguagem.

Voltando para a questão da aquisição de segunda língua, é importante destacar a relação entre pensamento e palavra envolvida neste processo. Para isso, desejamos comparar com a relação entre pensamento e palavra na aquisição da primeira língua; para traçarmos as semelhanças e as diferenças entre os processos. Vejamos o que nos diz Vygotsky:

“Quando passa a dominar a fala exterior, a criança começa por uma palavra, passando em seguida a relacionar duas ou três palavras entre si; um pouco mais tarde, progride das frases simples para as mais complexas, e finalmente chega à fala coerente, constituída por uma série dessas frases; em outras palavras, vai da parte para o todo. Por outro lado, quanto ao significado, a primeira palavra da criança é uma frase completa. Semanticamente, a criança parte do todo, de um complexo significativo, e só mais tarde começa a dominar as unidades semânticas separadas, os significados das palavras, e a dividir o seu pensamento, anteriormente indiferenciado, nessas unidades. Os aspectos semântico e externo da fala seguem direções opostas em seu desenvolvimento – um vai do particular para o geral, da palavra para a frase, e o outro vai do geral para o particular, da frase para a palavra (Vygotsky, 108,109).”

Podemos observar que na aprendizagem de língua estrangeira, no âmbito das palavras, o processo é idêntico à aquisição da língua materna. Um aprendiz iniciante de segunda língua, que é antes de tudo, aprendiz consciente do processo de aquisição de tal língua e consciente também de que já possui a sua própria língua; para construir macro-sentidos e falar a língua que almeja, começa (como as crianças na primeira língua) “por uma palavra, depois relaciona outras palavras (poucas) até que começa a construir frases simples. Um pouco mais tarde, progride das frases simples para as mais complexas, e finalmente chega à fala corrente (Vygotsky, 109).”

A diferença principal neste plano inicial entre o aprendiz de língua estrangeira e a criança que adquire língua materna é que quando o aprendiz, neste primeiro contato com a língua estrangeira, começa a construir sentidos nesta língua somente por palavras até chegar às estruturas mais complexas, irá servir-se da língua materna; ou seja, o aprendiz vai intercalar palavras da segunda língua com palavras da primeira, pois ele está recodificando o mundo ao qual já conhecia em sua língua original. A língua materna é muito importante neste primeiro momento, pois ela servirá de base para uma futura “emancipação” e neste momento posterior, o aprendiz já será capaz de construir macroestruturas na língua estrangeira.

Porém, a diferença está na organização do pensamento na aquisição de segunda língua. Como vimos, na língua materna, a criança parte de “um complexo significativo, e só mais tarde começa a dominar as unidades semânticas separadas, [...] vai do geral para o particular (Vygotsky, 109).” Na língua estrangeira, o pensamento caminha junto com a palavra quanto a sua estruturação na mente do aprendiz. E essa diferença pode-se atribuir ao fato de ser um aprendizado consciente e calcado (nos estágios iniciais) na língua materna, no qual o aprendiz já possui o domínio das unidades semânticas separadas.

Como exemplo, imaginemos que há uma criança frente a um aquário no qual há vários peixes nadando. Um adulto aponta para o aquário e diz: “peixe”. A criança, para fazer sentido com essa informação, vai partir do micro para o macro, ou seja, parte da palavra peixe, mas seu pensamento vai partir do macro para o micro, e por isso, neste primeiro momento, ela vai pensar que o significante peixe engloba o significado de “peixe + água + pedrinhas coloridas no fundo + vidro (aquário)”. Ela vai imaginar que peixe será tudo aquilo que estará à sua frente. Nesta etapa de seu desenvolvimento, a criança ainda não é capaz de segmentar o seu pensamento em unidades menores.

Agora, imaginemos que temos um aprendiz de língua estrangeira frente a um aquário e um professor desta língua (pensemos no inglês como exemplo de segunda língua) aponta para o aquário e diz: “fish”. O aprendiz poderá até se confundir e pensar que o significante “fish” se refere ao significado “aquário”, porém ele dificilmente aglutinaria unidades semânticas. Ou ele pensaria que é o peixe ou que é o aquário, mas não pensaria que “fish” significasse “peixe + aquário com pedrinhas no fundo + água”.

Essa impossibilidade de aglutinar unidades semânticas é devido ao fato que a língua materna já está internalizada no aprendiz e serve como suporte para a percepção e compreensão da língua estrangeira. Ou seja, com este exemplo, podemos observar que na aquisição de segunda língua, o pensamento parte do micro para o macro, juntamente com a palavra; pois o aprendiz desta outra língua já possui a língua materna como referência. Para que fique claro, nos referimos a um aprendiz que não seja criança, estamos usando como exemplo um aprendiz que já tenha consciência da aquisição da língua estrangeira e que já tenha superado este momento inicial da aquisição da primeira língua (Vygotsky afirma que cerca dos 2 anos de idade, as curvas de evolução do pensamento e da linguagem encontram-se e passam a exercer mútua dependência, ou seja, interdependência).

Embora estejamos comparando um aprendiz de segunda língua falante fluente de sua língua materna com uma criança, acreditamos que tal comparação seja plausível, pois “na aprendizagem de um língua estrangeira, existe todo um tempo de nominação. Mostra-se um objeto ou sua imagem e ele é nomeado. Esse momento evoca, certamente, aquele no qual a criança pequena experimenta seu novo poder nomeando aquilo que a rodeia, sob o olhar aprovador do adulto (Christine Revuz, 222).”

Apesar do nosso exemplo, é totalmente possível haver uma aquisição inconsciente de uma “segunda língua”, porém esse processo se dará em crianças expostas ao mesmo tempo a duas línguas. E no processo de aprendizagem dessas duas línguas, ocorrerão as mesmas etapas de desenvolvimento da linguagem já citadas por Vygotsky. A essa aquisição simultânea de duas línguas chamamos bilingüismo.