Há quem odeie e há quem ame, mas a verdade é que a novela faz parte da cultura brasileira. Isso mesmo. Novela, a meu ver, é cultura sim. Muitos podem dizer que não concordam que novela seja cultura, pois “não mostra nada que preste”, ou que aliene o telespectador, que para entender novela não se precisa pensar muito, etc. Mas eu não concordo com muitas coisas que são ditas a respeito das novelas. Primeiro que quando digo que novela é cultura, é porque entendo como cultura qualquer manifestação de um povo. E a novela brasileira mostra isso muito bem: é uma manifestação do povo feita para o povo. O Brasil produz novela para os brasileiros. Muitas são vendidas para outros paises, é verdade, mas em primeiro lugar está sempre o brasileiro, tanto que novela que não faz sucesso aqui, quase nunca é exportada. Quem foi que disse que a novela aliena as pessoas? O brasileiro tem muito censo critico quando o assunto é novela... Quando ele não gosta de uma trama ou de um personagem, autores são obrigados a mudar o destino dos personagens ou inclusive matar algum deles, pois quem manda na novela é o publico que a assiste. Por isso que se diz que novela é uma obra aberta, que vai sendo composta conforme vai sendo exibida segundo os gostos do “freguês”.
Quando dizem que a novela não mostra nada que seja bom e a criticam por isso, acho que os que a acusam estão cometendo uma injustiça, pois a novela somente retrata o que está na sociedade (viu como é cultura?!). Então, se vemos filhos com dois pais ou duas mães, mortes, assaltos, traições, casais hetero, homo e pansexuais; não há nada de errado com a novela. Reclamem com a vida, pois ela é assim...
Agora, sobre o fato de que novela não faz refletir muito, concordo em partes. E a parte que eu concordo é referente à sua estrutura. A novela já tem sua estrutura pronta, suas características de gênero textual, uma receita de bolo que os autores procuram seguir para ter audiência. O escritor de novelas Manoel Carlos declarou uma vez que “escreve sempre a mesma novela”. Ele foi muito sincero ao assumir isso publicamente, mas duvido que o público já não tenha percebido. Os clichês estão em todas elas, mas o publico gosta e quer ver é isso mesmo: mais do mesmo. Mocinha pobre que se apaixona pelo mocinho rico, ou vice-versa. Vilã que é capaz de tudo para conseguir o que quer, inclusive matar. Mocinha sofre a novela toda e no final é feliz com o seu verdadeiro amor, após da morte do vilão ou vilã, é claro. Alguns especialistas em televisão apontam que o publico já esta cansado dessa formula de se fazer novela. Mas a pergunta que eu lanço é: será mesmo?!
Para responder esta pergunta, chega agora ao horário nobre João Emanuel Carneiro, autor de A Favorita, da Rede Globo. Confesso que essa novela me chamou muito a atenção já no primeiro capítulo, pela excelente forma como os personagens foram apresentados. Me identifiquei logo com Flora, a ex-presidiaria que pagou por um crime que não cometeu, e com a megera Donatella Fontini. O curioso é que Claudia Raia tem tamanho carisma que não consegui simplesmente odiar Donatella. Passaram-se alguns capítulos e eu fui percebendo que havia algo de diferente nesta novela. A vilã aparecia muito mais do que a protagonista. A cada escândalo que Donatella fazia, meus olhos de “noveleiro” brilhavam... Estranho, muito estranho... Aguardei. E o Brasil e eu nos deparamos com uma verdade: sim, fomos enganados pelo autor da novela! Flora não é a protagonista e sim, a vilã da história!! Confesso que fiquei e estou muito decepcionado com a novela, pois eu queria ver Donatella como culpada, mas isso é opinião pessoal. Há quem tenha gostado dessa reviravolta e há os que tenham odiado. Mas o que eu não posso deixar de reconhecer é o genialismo deste escritor. Ele, finalmente, quebrou o paradigma, jogou fora a receita de bolo, inovou! Até que enfim! Chega de mesmice! Eu sou um dos que não gostou, mas o autor foi muito audacioso e se a novela for um fracasso daqui pra frente, não importa. João Emanuel Carneiro já escreveu seu nome na historia da televisão brasileira. Foi algo impensável, digno de Janete Clair. Parabéns a esse autor!
Mas eu continuo preferindo o mais do mesmo...