Essa semana aconteceu um fato curioso. Entrei num ônibus na Barra da Tijuca e o cobrador pensou que eu fosse assaltar o ônibus. Não me deixou passar na roleta. Na hora eu não entendi direito o porquê, até que percebi que ele estava muito nervoso com a minha presença. Essa atitude dele me fez pensar. Eu deveria ter ficado com muita raiva, mas na hora tamanha foi a minha perplexidade que eu não falei nada. Minha consciência estava limpa. Eu sei que eu não ia fazer nada...
Mas por que ele achou que eu poderia assaltar o ônibus? Pela minha roupa?! Não. Ele não teria ido com a minha cara? Talvez. Mas acho que foi mesmo pela minha cor. Mas tudo bem, eu o entendo. Não sou hipócrita. Quem não fica mais atento quando entra um negro em um ônibus? Se usar boné então... Ficamos ligados! E se estiver de chinelo?! O ônibus nem pára, na maioria das vezes.
Eu poderia estar revoltado pela atitude preconceituosa do cobrador, mas não estou, pois eu poderia ser um dos que estavam naquele ônibus e inclusive, poderia ter tido a mesma reação. Mas isso não justifica o ato em si. É somente um pequeno retrato do preconceito racial que existe neste país e que muitos insistem em negar. Não há justificativa para o preconceito, mas aprendi com essa experiência. Paga-se um preço muito caro por ser negro num país onde a maioria é de negros. Contraditório? Sim. Há país mais contraditório que esse?!
Enquanto nos preocupamos com os negrinhos que podem nos roubar, branquinhos engomadinhos nos roubam todo o tempo. Um branco de terno-e-gravata será sempre um branco de terno-e-gravata, não importando o que ele faça. Para eles, não há prisão. Sempre há um habeas corpus saindo do forno, a todo o momento. E o pobre negro apodrece na prisão, às vezes por roubar para comprar um pão...
Cada um pode suspeitar de quem quiser.
Mas eis a pergunta que não quer calar:
em quê fundamenta-se o nosso medo?
Podemos nos surpreender com a resposta.